A ADOÇÃO DAS IFRS COMO VANTAGEM COMPETITIVA PARA AS PME’s
José Carlos de Jesus[1]
A competitividade, presentemente, pode ser considerada o principal foco no mundo dos negócios. Contudo, para consegui-la, é necessário a combinação de vários fatores dentro e fora das organizações. Nesse contexto, Kotler (2003) evidencia que “Michael Porter popularizou a ideia de que as empresas são vitoriosas quando desenvolvem vantagem competitiva relevante e sustentável”. Nesta frase, o autor demonstra que o sucesso está principalmente em desenvolver estratégias de negócios que tem durabilidade permanente no longo prazo. Complementando, Aaker (2005, p. 150) lembra que “vantagem competitiva sustentável é um elemento (ou uma combinação de elementos) da estratégia empresarial que fornece uma vantagem importante sobre concorrentes existentes e futuros”. Ou seja, fica demonstrado que estará à frente do mercado as empresas que desenvolverem mecanismos que as distingue de suas concorrentes, onde este fator fará com que ela esteja com os elementos necessários para completar-se como organização de primeiro nível.
Na contabilidade, acredita-se que com a adoção das IFRS para PME’s, as empresas terão vantagem competitiva em seu favor. Devido ao fato de que toda empresa necessita de parcerias, aportes de capital por parte de investidores, financiamentos, dentre outros. Isso faz com que não somente os gestores terão informações de qualidade para tomada de decisões, mas também as instituições de crédito que também têm a ganhar com a adoção das IFRS para PME’s, realça Vânia Maria da Costa Borgerth, Chefe do Departamento de Contabilidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e Social – BNDES. (CONTABILIDADE, 2010). Ela acredita que “sob o ponto de vista da concessão de crédito, as demonstrações contábeis em IFRS ajudarão a reduzir a informalidade e a incerteza quanto à posição financeira das pequenas e médias empresas” e alerta que “o IFRS para PMEs terá um papel fundamental na redução do custo de captação, uma vez que, em geral, a incerteza é sinônimo de risco, o que acaba por impactar negativamente no custo de empréstimos atribuído a essa categoria de empresas”. (CONTABILIDADE, 2010).
No quesito, informação gerencial, o contador Paulo Schnorr salienta que “vamos finalmente poder dizer aos usuários da informação contábil a realidade econômica e financeira de nosso cliente”. (CONTABILIDADE, 2010). Paulo vai além quando diz que “não teremos de nos ater simplesmente aos aspectos fiscais, mas, sim, poderemos proporcionar informações relevantes e traduzir nosso trabalho em informações realmente úteis”. (CONTABILIDADE, 2010).
Uma vez adotadas as IFRS para PMEs, o acesso ao crédito será realizado de maneira muito mais rápida e precisa, tendo em vista, a confiabilidade que as demonstrações contábeis transmitirão aos usuários externos, principalmente às instituições de crédito, consideradas fontes de recursos importantes no crescimento das organizações. Nesse sentido, o diretor setorial de Assuntos Contábeis da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Daniel Liberati, também considera de extrema importância a adoção do IFRS na elaboração das demonstrações financeiras das PMEs, pois ele afirma que:
O acesso ao crédito pelas PMEs poderá melhorar, uma vez que o processo de análise e concessão ocorrerá de modo mais confiável, resultando, para o setor bancário brasileiro, em uma possível diminuição de impairment dessas operações. (Contabilidade, 2010).
Contudo, a seguinte informação deve ser analisada com cautela: “a publicação do IFRS para PMEs é um grande avanço para companhias em todo o mundo. Esta norma pode ser aplicável para algo em torno de 95% das companhias ao redor do mundo.” ressalta Sir David Tweedie, presidente do International Accounting Standards Board – IASB (NAVEGADOR, 2010, p.3). Deste modo, fica claro que quando busca-se uma vantagem competitiva com a adoção das IFRS para PMEs, não se deve esquecer de que a maioria das entidades no mundo, e conseqüentemente o Brasil, são pequenas e médias empresas. Entretanto, o que deve ficar claro é que não é o simples fato de adotar as Normas Internacionais para PME’s, que as empresas podem se considerar possuidoras de vantagem competitiva. Quer dizer, haverá tal vantagem se esta adoção for concretizada o quanto antes, juntamente com todos os outros procedimentos administrativos e financeiros de praxe, fazendo com que a organização tenha acesso “facilitado” a recursos que a farão participar em níveis superiores de competitividade.
Reforça-se que os bancos começarão a solicitar essas informações para concessão de financiamentos, assim como o sistema de crédito em geral, demonstrando a importância do IFRS para as pequenas e médias empresas. Vale lembrar que com a adoção existem chances dessas empresas despertarem o interesse de algum fundo de investimento ou private equity (Equidade Privada), tanto internacional quanto Nacional. Sendo assim, ressalta-se a relevância de as empresas de pequeno e médio porte brasileiras se adaptarem o mais rápido possível. (IBEF, 2010). Destaca-se a relevância das empresas estarem preparadas para receber os investimentos que o mercado poderá dispor a qualquer momento, ou seja:
No contexto atual do Brasil, com forte liquidez nos mercados, o private equity está em busca de ativos e, com o IFRS, será possível aumentar o número de fusões e aquisições. As empresas encontrarão mais facilmente benchmarks e estarão prontas quando um fundo de private equity mostrar interesse em seu negócio ou quando quiser fazer uma parceria estratégica. ( IBEF, 2010, s/p).
Outro fator a comentar, são algumas barreiras na aplicação da Norma Internacional, sendo uma delas os custos de implementação. Realça-se que as empresas devem encarar os custos para adoção das Normas Internacionais, não como simples despesas ou cumprimento de obrigação legal, mas como investimentos. Pois, demonstrações contábeis em IFRS demonstram uma imagem real de empresa, pelo menos nessa fase de adoção, comprometida em transmitir confiança aos seus usuários. Sobre esta questão, Fábio Celeguim, diretor financeiro da companhia Subway e membro da Comissão de Relações Públicas do IBEF-SP, relata que “em uma empresa nova, em um setor novo, apresentar práticas claras de governança corporativa gera maior credibilidade. O mercado vê a companhia de outra maneira.”(IBEF, 2010, s/p).
Alerta-se que para utilizar a vantagem competitiva proporcionada pela adoção das IFRS para PMEs o caminho é árduo e longo. O professor da FIPECAFI e autor de vários livros de contabilidade, Ariovaldo dos Santos, fala que “os contadores dessas empresas terão que reaprender o que é e para que serve a contabilidade.”. (IBEF, 2010, s/p). Ele enfatiza que “teremos que estudar a fundo os conceitos, entender onde eles se encaixam, saber as diferenças da contabilidade de uma grande empresa e de uma pequena e média, para depois aplicar as normas na prática.”. (IBEF, 2010, s/p).
No contraponto, Antônio Lopes de Sá (2010), em seu blog chamado Neopatrimonialismo, afirma que “tem sido difundido com alguma insistência que há vantagem e maior ‘transparência’ em se empregar as aludidas normas, mas, nenhum dos artigos e notas que li apresenta de forma técnica, clara e ostensiva em que consiste o benefício.” No artigo escrito por Sá, existe uma inconformidade tamanha quanto à questão de não haver Lei que obrigue o profissional contábil a se adequar às Normas Internacionais de Contabilidade. Segundo Sá “ninguém pode obrigar o profissional da Contabilidade a seguir as IFRS a não ser a Lei.” Sá vai além e expressa que “as normas denominadas como ‘internacionais’, tais como estão editadas, são infiéis à ciência da Contabilidade, transgridem algumas leis, se acham envolvidas em acendrado subjetivismo e apresentam sérios defeitos conceituais em face da realidade objetiva.” Ele cita em seu livro denominado de Normas Internacionais e Fraudes em Contabilidade, aonde dentre outras discordâncias, o conceito de Valor Justo, que chega a chamar de “critério que agasalha o arbítrio e a manipulação”, além de afirmar que não é o único a criticar a aplicação das Normas Internacionais de Contabilidade.
Desta forma, ficam expostos os pontos positivos e negativos quanto a utilização das IFRS como vantagem competitiva para PME’s. Cabe a cada organização, avaliar o contexto mercadológico no qual está inserida e refletir a melhor maneira de aproveitar o que as Normas Internacionais de Contabilidade têm a oferecer.
BIBLIOGRAFIA
KOTLER, Philip, Marketing de A a Z, 80 Conceitos que Todo Profissional Precisa Saber, 7ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
IBEF, IFRS Bate à Porta das Pequenas e Médias Empresas, Disponível em https://www.ibef.com.br/ibefnews/pdfs/144/materiadecapa.pdf, acesso em 10/05/2013.
CONTABILIDADE, Revista Brasileira de, Brasil Começa a Adotar o IFRS na Contabilidade de PMEs, Disponível em https://www.fucape.br/downloads/reportagem_rbc_186.pdf, acesso em 12/05/2013.
AAKER, David A, Administração Estratégica de Mercados, 7ª ed., São PAULO: Artmed, 2005.
SÁ, Antonio Lopes de, Fundamentos da Contabilidade Geral, 3ª ed, Curitiba: Juruá Editora, 2009.
NAVEGADOR CONTÁBIL, Disponível em https://www.pwc.com.br/pt/ifrs-brasil/navegador-contabil/assets/navegador-contabil-8a.pdf, acesso em 13/05/2013.
[1] José Carlos de Jesus: Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), Membro do Centro de Estudos Científicos em Contabilidade FSG, email jose.jesus@tondo.com.br